A Revolução Digital
Estamos entrando em uma fase de transição entre a aviação dita romântica e a aviação digital. A aviação sempre conheceu as novas tecnologias primeiro, mas... (clique em MAIS INFORMAÇÕES para continuar lendo o artigo)... com o avanço da tecnologia digital e o desenvolvimento dos sistemas de comunicação modernos, perdemos o pioneirismo na aplicação. Isto porque tudo que equipa aeronaves deve ser testado, e sua confiabilidade comprovada dentro dos altos padrões de segurança exigidos pelos órgãos homologadores. Este tempo de homologação faz com que a tecnologia ande mais rápido que a aviação, e quando um equipamento é aprovado para uso aeronáutico com certeza já existe tecnologia desenvolvida para a geração que os substituirá.
Este cenário fez com que houvesse uma mudança de atitude no mercado de equipamentos de aviação. Anteriormente quem puxava o desenvolvimento de equipamentos para aviação civil era o órgão homologador, preocupado em aumentar os índices de segurança, determinando prazos e criando normas a serem cumpridas por fabricantes e operadores. Desta maneira obrigava indústria a desenvolver os sistemas, normalmente usando parte da tecnologia criada para fins militares, e os operadores de aeronaves estavam na outra ponta aplicando o que era exigido pela legislação. Com o aumento da competitividade entre as indústrias de equipamentos e a falta de onde aplicar a tecnologia militar desenvolvida para a Guerra Fria, a indústria de “Avionics” começou a criar sistemas visando a melhoria dos sistemas de navegação, comunicação e vigilância de tráfego aéreo. Uma vez desenvolvidos, os novos sistemas foram apresentados para as empresas como diferencial operacional, aumento de produtividade e tudo mais que o mundo dos negócios exige para o sucesso ou mesmo sobrevivência. Quando as empresas compram a idéia dos fabricantes de equipamentos, vão até as autoridades homologadoras para certificar estes novos sistemas. Portanto está invertida a ordem original dos fatores: os fabricantes seduzem o mercado, que por sua vez exige das autoridades a aprovação destes novos sistemas.
Outro grande desafio para a comunidade aeronáutica mundial é colocar um número cada vez maior de aeronaves num mesmo espaço. Com a tecnologia hoje aplicada, aumentar o volume de tráfego seria perigoso, pois estamos próximo ao limite, basta prestar atenção no número cada vez maior de quase colisões. Por outro lado temos o crescimento contínuo do número de passageiros, exigindo aeronaves mais rápidas e mais opções de vôos, aliado a competição entre as empresas que querem oferecer melhores serviços, mas normalmente nos mesmos horários. Uma solução simplista seria, como proposto aqui no Brasil por um empresário de aviação, a criação de uma única empresa que colocaria uma única aeronave maior em um único horário para determinado destino, acabando assim com a livre concorrência e reduzindo o mercado de trabalho em aviação e as opções de horários, serviços e preços aos consumidores.
Para quem trabalha diretamente com esta tecnologia as mudanças são mais latentes ainda, pois a formação exigida para o manejo destes equipamentos é muito diferente dos sistemas analógicos e mecânicos. À manutenção bastará conectar um computador, colher os códigos de falha dos determinados sistemas e substituir ou efetuar o “reset” do módulo defeituoso. Aos pilotos temos uma mudança de atitude perante as novas tecnologias aplicadas. Portanto o treinamento deverá cada vez mais enfatizar as lógicas empregadas nos sistemas e o monitoramento da interface dos vários sistemas. A cada dia os pilotos estarão mais distantes dos comandos do avião. Podemos encarar isso como uma revolução na maneira de atuação da tripulação, passando esta a ser gerente da operação, programando e monitorando o funcionamento dos sistemas automatizados.
Este é um caminho sem volta, na busca de vôos seguros e precisos. Hoje a formação aeronáutica não leva em consideração estas mudanças, trabalhando em modelos ultrapassados, alguns ainda do pós guerra. Nossos futuros gerentes de sistemas de aviação não conhecem os fundamentos e filosofias que serão empregadas em suas aeronaves. A função do comandante vem mudando nos últimos anos devido o automatismo cada vez mais disseminado na aviação e essa é uma tendência que será mais acentuada nos próximos anos, mas é importante reforçar que não há substituição na responsabilidade do Comandante e na confiança do passageiro. Da mesma maneira que os modernos sistemas de aviação podem tornar o vôo mais seguro, se mal utilizados podem ser fatais. Assim como devido a maior complexidade das lógicas aplicadas, panes não previstas podem acontecer sem que haja uma maneira de solucioná-las. Aos modernos Comandantes caberá efetuar esta transição de maneira paulatina fundamentando-se nos erros do passado e vislumbrando as possibilidades do futuro.
Fonte: Aerogrips, por Daniel Torelli
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