Pouca gente pode dizer hoje que conhece a Laguna Linhas Aéreas. A empresa já existe, mas ainda não voa. Quando voar, de avião Fokker, serão 96 os destinos, segundo o prospecto de negócios da companhia. O número não só é expressivo como, se o projeto se concretizar, a Laguna, novata criada por um empresário desconhecido no setor, já nascerá como a companhia aérea com o maior número de destinos no mercado brasileiro. A Trip, atual líder nesse quesito, voa para 78 municípios.
A Laguna vai ingressar neste mês com o pedido para a obtenção do Certificado de Homologação de Empresa Aérea (Cheta). O documento, concedido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), representa um dos últimos passos para a criação de uma companhia área de transporte regular de passageiros. Em abril, a empresa já obteve a autorização para funcionar juridicamente como uma companhia aérea, atestado recebido com base na avaliação da viabilidade econômica do seu plano de negócios.
À frente do projeto está Daniel de Souza, um ex-professor de Física da rede estadual de Lorena, cidade do interior paulista. A criação da Laguna exigirá um investimento inicial estimado em R$ 70 milhões, valor que não inclui a aquisição das aeronaves, segundo calcula Souza. Com um escritório como sede operacional em São José dos Campos, a Laguna planeja atuar na aviação regional. Sua meta é voar com 48 aviões desde o início da sua operação, previsto para dezembro deste ano.
Poucos detalhes
O empresário revela poucos detalhes de seu projeto. Ele afirma que a empresa está "com negociações avançadas" para a captação de verbas com instituições financeiras brasileiras, mas os nomes das fontes de recursos não são apresentados. Ele ressalta que não procura novos sócios, mas apenas instituições dispostas a financiar o projeto de fazer a empresa decolar.
Para entrar no mercado em grande escala, a Laguna optou por uma frota de segunda mão, formada por aviões Fokker 100 e Fokker 50, oriundos de companhias internacionais e com capacidade para transportar entre 50 e 100 passageiros. Se a empresa efetivamente estrear com 48 aeronaves, já entrará no mercado com a terceira maior frota do país, atrás apenas das líderes TAM e Gol, ambas com mais de cem aviões. A previsão de Souza é que a primeira aeronave da Laguna chegue ao Brasil em setembro.
A escolha do Fokker é criticada por especialistas do setor. "Não há restrições por parte da Anac, mas está na hora de criar impedimentos para aviões que pararam de ser fabricados continuarem voando", diz um consultor da indústria aeronáutica consultado pelo iG. Graziela Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, também faz críticas à decisão. "Não vejo muito pilotos no mercado para essa aeronave", afirmou.
Aviões disponíveis
O preço menor em relação a outros modelos foi um dos motivos que favoreceram a escolha do Fokker para a composição da frota da Laguna. “No final do leasing eu pagaria mais do que vou gastar para comprar as aeronaves”, afirma o empresário Daniel de Souza. Outra vantagem das aeronaves da falida fabricante holandesa foi a disponibilidade de aviões no mercado, segundo ele. Se a empresa seguisse a decisão mais usual entre as companhias aéreas, que é de encomendar modelos novos, teria que entrar em uma fila para obter a aeronave. O resultado seria uma espera de cerca de dois anos para receber os primeiros modelos, que chegariam aos poucos, e não de uma só vez.
A estratégia da companhia também é vista com ressalvas pelos especialistas em aviação ouvidos pelo iG. "Avião barato gera um custo menor para a criação da empresa, mas o importante é o custo operacional menor", disse um executivo de uma das principais companhias aéreas do País. Ressalte-se que, entre os especialistas, a qualidade do Fokker é bem avaliada. Mas as críticas concentram-se na idade da frota e na falência do fabricante.
Reticências
Por se tratar de uma empresa novata, criada por um estreante no mercado, muita gente se diz reticente com a novidade - o iG ouviu nove especialistas do setor. "Nada contrário à criação de novas companhias, mas é estranho que uma empresa nasça para voar para cidades que não têm aeroporto", afirmou o executivo que faz parte de uma grande companhia aérea do País.
O proprietário da Laguna, contudo, é irredutível na estratégia. Ele reforça também a ideia de que a operação em grande escala garantirá custos reduzidos e possibilidade de oferta de preços competitivos. “Se eu começar na aviação regional atendendo quatro cidades, com dois aviões serei mais um que entra no mercado com preço alto”, afirma Souza, o novato do ar.
Fonte: IG via Blog 12 horas
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