Por Ana Paula Felippe Backx
Professora de Língua Portuguesa e Mestre em Educação.
Francis Bacon descreve o ato de ler da seguinte forma: “Leia, não para contradizer e refutar, nem para crer e pressupor, nem para achar assunto e conversa, mas para pensar e considerar”. Com essa premissa, é necessário enfatizar que o processo de ler é complexo pois permite o acesso a novos conhecimentos ou a novas situações, bem como é um meio de referência para divulgação de pesquisas, dados, estatísticas e um recurso para registros. Para que haja leitura é imprescindível que exista um texto e, consequentemente, um autor. È aí que entra o aspecto referente à importância de se produzir um bom texto. Qualquer idéia é interessante, mas precisa ser bem estruturada em forma de texto para que o leitor tenha condições de assimilar com clareza a proposta do autor. Quantos textos existem mas que não conseguem reproduzir a verdadeira intenção do autor? Quantas vezes há idéias interessantes a serem difundidas mas que o autor tem dificuldade de expressá-las no papel? Isso é inerente a qualquer profissão ou área. Seja na Medicina, na Engenharia ou na Educação, um texto bem elaborado tem uma ótima aceitação por parte dos leitores e consegue transmitir informações que serão discutidas, analisadas, pesquisadas... O mesmo ocorre na área técnica, na aviação. A aviação exige minuciosidade em todos os aspectos; desde os mecânicos até os tripulantes, todos os acontecimentos devem ser relatados de forma clara e precisa a fim de facilitar inspeções e conseqüentes manutenções. Em algumas situações, o laudo confeccionado é muito técnico e objetivo, sem ser estruturado atentando-se aos componentes lingüísticos que formam o bom texto. O fato é que, de uma forma mapeada ou em ítens, um boletim de serviço pode ser decifrado, porém, o que se almeja não é ficar só e somente esse boletim direcionado ao meio mecânico e sim publicá-lo e remetê-lo a vários outros setores. Isso permitirá uma maior divulgação de teorias, estatísticas e pesquisas, o que possibilitará o desenvolvimento de novos procedimentos ou projetos. Somente através de um bom texto, uma relação entre o leitor e o autor será estabelecida. O bom texto é feito de marcas formais que permitam uma clareza na identificação da idéia principal e que possam direcionar o leitor a responder ou a perguntar sobre o contexto desenvolvido. Assim, ficam estabelecidas relações de “cumplicidade” que possuem um mesmo objetivo: a troca de idéias e conseqüente formulação de novas teorias. Um maior nível cultural fica estabelecido e evidente quando há preocupação por parte do autor com uma produção textual que objetive a informação mas que priorize a forma. Isso ocorre quando há atenção para a estruturação de tópicos do texto como temporalidade, causa/conseqüência e condicionalidade, por exemplo. A dificuldade de compreender um texto está diretamente ligada ao não encaixamento das estruturas argumentativas esboçadas pelo autor. Para solucionar esses “ruídos” na comunicação autor/leitor, a seqüência das frases deve estar bem articulada. O uso dos recursos disponíveis na língua portuguesa, tais como conectores interfrásticos e conjunções, garante a boa estrutura textual. A interação entre autor e leitor é o que garante a qualidade do texto. Por isso, produzir um texto é uma tarefa desafiante pois é uma janela para o mundo. Considerando aspectos inerentes a aviação, a maneira de expor as idéias num boletim de serviço, numa instrução de avião, num manual de manutenção ou numa inspeção é, ao mesmo tempo, a imagem do responsável pelo documento. Se esse responsável tem como objetivo somente expor dados, não há a necessidade de se preocupar com estruturação textual. Porém, se o que se pretende é alçar novos vôos, ou seja, contribuir para pesquisas e novos projetos de engenharia, a atenção para a confecção, não de um simples relatório mas de um artigo, deve ser considerada.
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