A aviação regional nacional retoma o fôlego, embalada pelo vigor do agronegócio e pelo desenvolvimento das cidades média
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A aviação regional levou trinta anos para atravessar a zona de turbulência na qual entrou depois que o governo parou de subsidiá-la. Em meados desta década, o setor emitiu os primeiros sinais de que poderia voltar à rota. Em 2009, enfim, decolou. A receita das companhias aéreas que atuam no interior do país aumentou 12% no ano passado. A participação desse segmento no mercado geral de aviação triplicou: foi de 2% para 6%. Consultorias como a americana Bain & Company projetam que esse patamar de crescimento deve manter-se estável pelos próximos vinte anos, no mínimo. Se a previsão se confirmar, em 2030, um em cada cinco passageiros brasileiros viajará em empresas regionais, proporção semelhante à dos Estados Unidos. Um dos motivos de otimismo é o fato de o segmento, agora, expandir-se sem ajuda oficial. Sua propulsão é o agronegócio, uma das cadeias produtivas mais bem-sucedidas e promissoras da economia nacional. As viagens dos empresários do campo, de seus funcionários e fornecedores tornaram as frotas regionais lucrativas. O movimento foi acompanhado da reforma das pistas dos pequenos aeroportos. Em alguns municípios ricos, a modernização foi bancada pelas prefeituras, que preferiram usar os próprios recursos a ter de esperar por verbas da estatal Infraero. Hoje, 140 deles são atendidos por voos regulares.
A demanda em alta e a renovação dos aeroportos atraíram investidores. Em quatro anos, o número de companhias que se dedicam à aviação regional cresceu 30%. Atualmente, são doze. As novas empresas injetaram concorrência na área, operando com aviões mais novos, confortáveis e com menor custo de manutenção. A gaúcha NHT foi a pioneira da nova fase. Criada em 2006, ela conecta treze cidades da Região Sul. No ano passado, ela ganhou uma rival, a paranaense Sol Linhas Aéreas, cujos cinco aviões ligam Curitiba a Cascavel, Foz do Iguaçu e Maringá. É na Amazônia, porém, que a aviação regional atende mais localidades. São 49 no total. Fundada em Roraima, a Meta começou como uma empresa de garimpo. Hoje, liga Boa Vista a Belém e outros sete destinos e exibe a melhor taxa de ocupação entre todas as companhias aéreas brasileiras: 87%. Apareceram oportunidades de negócio até no bem servido Sudeste. Fundada em 2007, a Air Minas voa de Belo Horizonte para quatro municípios do interior do estado e para São Paulo. No ano passado, a empresa transportou mais de 20.000 passageiros. Exemplos como o da Air Minas estimularam o ex-governador mineiro Aécio Neves a reformar aeroportos de 23 cidades e o da Pampulha, na capital, que passou a distribuir os voos intraestaduais. Resultado: em sete anos, o número de cidades mineiras servidas por voos regulares triplicou.
No próximo mês, será a vez de o Nordeste ter a sua própria empresa de aviação regional. A pernambucana Noar investiu 40 milhões de reais na compra de dois turboélices da fábrica checa Aircraft Industries, iguais aos que compõem a frota da NHT e da Sol. Com capacidade para dezenove passageiros e dois tripulantes, o modelo é apropriado para curtas distâncias. Como não é pressurizado, voa a baixa altitude e gasta pouco com combustível e manutenção. Por isso, tornou-se o preferido das pequenas empresas aéreas da América do Sul. A Noar encomendou mais dois desses aviões, além dos que começarão a voar no próximo mês, e planeja receber outra remessa idêntica em 2011. Com seis aeronaves, quer transportar 70.000 pessoas por ano a partir do Recife. Ligará com voos regulares a capital ao interior pernambucano, à cearense Sobral e à potiguar Mossoró. "A demanda dessas cidades ainda é desprezada pelas grandes companhias, e aí está nossa oportunidade", diz o dono da empresa, Vicente Rodrigues. Se a Noar chegar à velocidade de cruzeiro, poderá almejar uma taxa de retorno semelhante à das companhias mais lucrativas: em torno de 15% ao ano. Na aviação regional, tamanho não é documento.
Fonte: Revista Veja - por Leonardo Coutinho
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